segunda-feira, 21 de setembro de 2015
Senhor Caos
Alguns de nós gostam de atrair o Caos, gostam tanto que querem-no só para si. Não partilharão com mais ninguém. Quando a vida parece feliz e fácil demais, não tardará muito para que o voltemos a chamar, melhor amigo pontual, para que faça as honras de a arruinar, de a virar completamente às avessas porque já sentíamos saudades das dores psicológicas de estômago, as nostálgicas insónias e de dormir com rolos de papel higiénico na cabeceira. Vontade de partir o coração de alguém, vontade de desiludir a família, vontade de enojar estranhos.
Eu pessoalmente adoro, adoro especialmente massacrar-me durante a noite, naqueles minutos antes de adormecer, que se transformam em horas e lágrimas. Relembrar-me da última vez que chamei o nosso amigo para maltratar alguém ou algo do género, simplesmente adoro.
Mas o mais divertido disto tudo, com certeza é o histórico de atitudes, hábitos e teimas que ganhamos. Que se vão aglomerando na nossa personalidade, a um ponto que finalmente (e felizmente!) já não conseguimos ter lá muitos momentos felizes na vida, porque assim é que se está bem, que eu cá não gosto de facilidades, sempre adorei desafios.
A fuga
Fugir de tudo o que construí, como fujo sempre. Arranjar novos vícios, novas tristezas, novas ambições, novos amores, apenas para me fartar novamente, relembrar novamente, e recomeçar novamente.
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
domingo, 28 de dezembro de 2014
II
E pelos vistos continuo na mesma crise existencial em que estava na última vez que postei alguma coisa, ou pior.
Um excerto do que escrevi há dias no meu pseudo-diário/caderno-sem-nexo:
Quanto mais velha estou, cada vez compreendo mais que afinal nada compreendia da vida.
É algo quase palpável, e um sentimento relativamente recente, por acaso.
Finalmente consigo compreender todas estas "fases", como a minha mãe lhes chamava, por que passei, e compreender e identificar-me com os que por elas estão a passar agora. Consigo compreender o quão parvas, fúteis e inúteis foram algumas das minhas atitudes e acções. Ridículas e dispensáveis, que raio de mentalidade tinha eu? - Tal e qual como quando levamos as mãos à testa por nos lembrarmos de momentos embaraçosos - E eu que pensava que tinha cabecinha na altura.
Tanta coisa que está a ganhar sentido.
domingo, 1 de dezembro de 2013
I
Costumava preocupar-me demasiado com o futuro
Agora preocupo-me em preocupar-me
Com as pessoas que amo
E pelo que luto no presente.
Porque prefiro viver na mais nítida das paisagens,
A observar a beleza e o suspense da tela branca do amanhã
Do que viver num incompleto esboço
De uma árvore morta, à espera que lhe pintem umas folhas ou flores...
Falar
Quando ficamos alguns momentos sem abrir a boca, sentes que fica um silêncio constrangedor?
Nem por isso. Porque haveria de ficar? Por muito que goste de te ouvir falar, quando não há nada para dizer, valorizo ainda mais o silêncio!
Porque se não estivesse em silêncio, estaria a tagarelar. Porque também nunca tenho muito que falar.
Sim, a maioria das vezes que abro a boca é para tagarelar. Não falar, tagarelar! Coisa mais ingenuamente irritante. As conversas mais superficiais que não interessam a ninguém. A tagarelar as coisas mais simples, simpáticas e saudáveis, hábito este que qualquer ser humano já adoptou. A inocente conversa de ocasião! Sem propósito e em alguns casos sem nexo. Aquelas conversas que felizmente podemos ter sem puxar muito pelo cérebro e ninguém nos julga por isso! Tagarelar. Coisas tão fúteis ou idiotas que te fazem arrepender de ter aberto a boca na próxima vez que pensares nisso. Isso é que é tagarelice!
Por isso acho uma estupidez achar constrangedor o silêncio. Traz uma grande harmonia...
Se não há nada que falar, cala-te. Mas se achas o silêncio incomodativo, sempre podes tagarelar. Não só ajuda a passar o tempo como a exercitar a língua...
E ainda bem que me falaste nisto.
sábado, 6 de julho de 2013
Convergência
Um dos meus eu quis escrever sobre ele mesmo e a convergência desses vários eu em mim. Difícil de assimilar mas tentarei usar uma linguagem clara; Não é que eu tenha um distúrbio qualquer de múltiplas personalidades, muito pelo contrário acredito que é puramente humano conhecermo-nos no que toca a saber que existe uma (uma? Duas, três?) parte de nós capaz de fazer tal coisa e desejar tal coisa, e ser também capaz de fazer e desejar o oposto - quase como um alter-ego.
Tantas vezes dei por mim (daremos por nós?) a agir como a pessoa que sou e, de um momento para o outro, vejo as minhas atitudes como reflexões do que mais poderia odiar em alguém, ou ajo como nunca pensaria agir. Faço o que nunca seria capaz de fazer. Penso o que nunca me atreveria a pensar.
Também entra aqui o famoso 'Uma parte de mim querer fazer isto mas uma outra parte não.', 'Gostava mesmo de fazer isto mas algo me diz para não o fazer.' ou 'Estava prestes a fazer isto, mas controlei-me.'
O humano em conflito consigo mesmo, a indecisão, prefiro acreditar que tudo isto é consequência de uma acumulação de desejos ou ideias pendentes ou íntimas que nos agradaram, mas que acabámos por rejeitar.
No fundo, acredito que um alter-ego não é nada mais, nada menos do que próprias demonstrações de cansaço, cansaço deste controlo extremo a que expomos a vida. Já é hábito. Este alter-ego, esta outra personalidade é uma imagem idealizada nossa, capaz de realizar os nossos profundos desejos e interesses, coisa de que nos deprivamos na consciência de um "eu normal".
Isto acontece porque toda a tua vida deprivaste-te disto e daquilo, porque colocaste valores morais ou éticos ou desejos de outrem acima da tua própria consciência. Não te vês capaz de arriscar, então procuras a calmia e o controlo na vida. Mas o fruto proibido é sempre o mais apetecido. Então não tardará muito para que esses múltiplos indivíduos, consciências instáveis, se rebelem uma vez mais, cada um para seu lado, mas que no fundo, acabam por convergir numa só pessoa.